O Diário do Nordeste teve acesso à decisão da Justiça sobre
a 'Operação For All'. Empresários e cantores de bandas de forró famosos
declararam informações falsas ao Fisco e estão sendo investigados por vários
crimes.
A investigação que culminou na 'Operação For All',
deflagrada em conjunto pela Polícia Federal (PF) e pela Receita Federal, em
outubro de 2016, identificou que empresas ligadas à A3 Entretenimento não
declararam, pelo menos, R$ 167 milhões no Imposto de Renda (IR) e que o suposto
esquema criminoso teria envolvido vários 'laranjas' e familiares dos principais
investigados. A reportagem do Diário do Nordeste teve acesso à decisão judicial
que autorizou a operação, junto a uma fonte que não tem ligações com a
investigação ou com o processo.
Segundo o documento da 11ª Vara Federal, o inquérito
policial que resultou na operação foi instaurado em 13 de agosto de 2015 para
apurar a ocorrência de crimes contra a ordem tributária, lavagem de dinheiro e
organização criminosa. Sócios de bandas de forró, casas de show, emissoras de
rádio e outras empresas ligadas à A3 Entretenimento são suspeitos de ter
apresentado declarações de Imposto de Renda falsas e ter omitido créditos e
bens materiais à Receita Federal, entre 2012 e 2014.
De acordo com a decisão, a investigação identificou a
subnotificação de mais de R$ 167 milhões na declaração do IR por parte das
empresas, mas esse número pode chegar a meio bilhão, conforme a estimativa
feita pelos investigadores. Cerca de 72% desse valor, ou seja, R$ 121 milhões
teriam sido omitidos apenas por quatro bandas de forró: Aviões do Forró,
Solteirões do Forró, Forró dos Plays e Forró do Muído. Um quinto grupo musical,
Samyra Show/ Forró 100%, também foi investigado, mas não teve valores
irregulares descobertos, naquele momento. Os R$ 46 milhões restantes teriam
sido omitidos pelas outras empresas, com destaque para Podium Construções,
D&E Entretenimentos e Rádio Pajeú FM.
Segundo o documento obtido pela reportagem, os 32
investigados - sócios de empresas ligadas à A3 Entretenimento - também
declararam informações falsas ou omitiram créditos e bens ao Fisco, nesses três
anos. Entre eles estão os famosos empresários Antônio Isaías Paiva Duarte
('Isaías CDs'), Zequinha Aristides Pereira e seu filho Carlos Aristides Almeida
Pereira (Carlinhos Aristides) e os cantores Solange de Almeida Pereira, José
Alexandre da Silva Filho ('Xande Avião'), José Raimundo de Lima ('Zé Cantor') e
Samyra Oliveira Silva. A suposta rede criminosa seria maior e envolveria também
familiares e 'laranjas'. 'Laranjas'
Quatro filhos, o irmão, a esposa e a ex-esposa de Zequinha
estão entre os investigados. Uma das filhas, que é sócia das empresas Rádio
Pajeú FM e Secta Assessoria, teria omitido mais de R$ 153 mil e a compra de
dois imóveis e quatro automóveis à Receita Federal, de 2012 a 2014.
Já a esposa e a ex-esposa do suspeito aparecem com perfis
muito parecidos, sendo sócias das mesmas empresas, entre elas o Shopping da
Construção. Ambas são investigadas por não declarar as participações
societárias à Receita. Segundo a decisão, existe a suspeita delas serem
'laranjas' no quadro societário dos empreendimentos.
Outro investigado por ser 'laranja' do esquema é o irmão de
Zequinha, Francisco Aristides Pereira. Ele figura como único sócio da A3
Entretenimento, que tem o domínio de todas as bandas investigadas na operação.
A PF aponta que ele não tem, sequer, conta bancária e apresentou na declaração
do IR rendimentos muito inferiores aos lucros do grupo empresarial.
'Xande Avião' e a esposa Francisca Isabele Temoteo também
estão na lista de investigados. Conforme apuração da PF e da Receita Federal, o
advogado Valdeci Rodrigues de Araújo Filho seria 'laranja' da empresa comandada
pelo casal, a 'Dnax Locação para Eventos'. Valdeci não declarou lucro com o
empreendimento nos anos de 2012 a 2014, mesmo tendo movimentado R$ 1,8 milhão
em contas bancárias.
Os mandados de buscas e apreensão cumpridos pela PF em
outubro, em apartamentos luxuosos em áreas nobres de Fortaleza, sequestrou 163
imóveis, 69 automóveis e apreendeu R$ 600 mil em espécie. Para garantir o
pagamento à Receita, os bens continuam sequestrados, ou seja, impossibilitados
de serem negociados, mas podem ser usados pelos suspeitos.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de
comunicação da A3 Entretenimento, que afirmou ser responsável apenas pela
divulgação de eventos e pediu para ligar para a recepção e procurar os
responsáveis, mas o setor reencaminhou a demanda para a assessoria de
comunicação. Os advogados dos suspeitos não foram localizados.
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