“Criança nasceu para ser amada e
não para ser abusada”. Foi com esta frase estampada na camiseta que vestia, que
o presidente da CPI dos Maus-Tratos, o senador Magno Malta, recebeu na tarde de
ontem (9), na Assembléia Legislativa do Ceará, um dossiê com farta documentação
denunciando a omissão do Estado do Ceará em casos de abuso sexual contra
crianças e adolescentes, além de fraudes em notas de alunos de escolas da rede
municipal de ensino. O estado é o 4º do Brasil com maior crescimento em
notificações de estupros coletivos.
Somente em 2017, 218 homens foram
presos em flagrante por estupros, segundo a SSPDS. Em Itapajé, 17 estupradores
foram colocados na cadeia somente neste ano. Segundo o Atlas da violência no
Brasil, apenas 15% dos casos são denunciados.A documentação que contava também
com sete DVDs, tem documentos e vídeos que revelam, segundo o denunciante,
fortes indícios que envolvem direta ou indiretamente políticos influentes que
acabam manipulando investigações, ou até mesmo influenciando na exoneração de
delegados: o que pode ter acontecido em Itapajé recentemente com o delegado
André Firmino, segundo revela documentos anexos no dossiê. O secretário de
Segurança, André Costa, e o delegado geral da Polícia Civil, Everardo Lima,
negam essa possibilidade e afirmam que o delegado pediu para sair.
Nos últimos dois anos, só em
Itapajé, distante 115 quilômetros da capital cearense, 58 casos de estupros de
crianças e adolescentes foram registrados pelo Conselho Tutelar. Os casos
ganharam repercussão depois que uma criança de apenas seis anos contou para sua
mãe que vinha sendo estuprada dentro do banheiro da escola Patronato São José,
administrada pela Diocese, que tem na direção o ex-prefeito Padre Marques. Além
dos estupros, o delegado indiciou quatro envolvidos na Operação “A educação do
Mal”, dentre eles, o secretário municipal de educação, diretor, a coordenadora
e uma professora de uma escola daquele município. Dia 19 de junho, André
Firmino foi exonerado da delegacia de Itapajé sem concluir as investigações e
sem motivo justo, a não ser o de ter se tornado uma ameaça para os políticos
locais, segundo ele revelou.
Já em Sobral, segundo a Polícia
Civil, cerca de 40 casos de abuso sexual são registrados mensalmente, mas não
há agentes suficientes para investigar, nem suporte técnico suficiente para o
sucesso das investigações. A omissão, a conivência e o medo de lideranças
políticas locais são também algumas das barreiras encontradas pelo Conselho
Tutelar, para que as vítimas levem os casos adiante. Não é diferente do que
acontece em Uruoca e em outras dezenas de municípios cearenses.
Dentre os documentos entregues ao
presidente da CPI, uma lista de mais de 15 nomes que serão convocados para
prestar depoimentos. Em entrevista logo depois à entrega das denúncias, o
senador Magno Malta disse não ter compromisso com abusador de crianças, e sim
com as crianças. “Patente pra mim, dinheiro no banco, nome, mandato, não vale
porcaria nenhuma, criminoso é criminoso e se abusou de criança, se depender de
mim, vai pro pau”, alertou o presidente da CPI.
Nenhum comentário:
Postar um comentário