As
eleições de 2018 foram o laboratório para várias modificações trazidas pelas
últimas minirreformas eleitorais, cuja influência continuará a ser testada no
próximo ano. Em 2020, porém, os pleiteantes a cargos proporcionais (vereadores)
enfrentarão ainda outra mudança de impacto: o fim das coligações. Junto com a
cláusula de barreira, que desde o ano passado condiciona o acesso ao Fundo
Partidário ao desempenho das siglas na disputa pela Câmara dos Deputados, a
mudança deve reduzir gradativamente o número de partidos, inviabilizando os de
menor porte.
"A
proibição de coligações nos parece positiva na medida em que cada partido
político terá que disputar as eleições com as forças próprias. Se o partido não
tem candidatos próprios, não tem densidade eleitoral, deve repensar a própria
existência", argumenta Edson Resende Castro, promotor do Ministério
Público de Minas Gerais e autor de Direito Eleitoral. Ele esteve em Fortaleza
para participar, na última sexta (10), do III Encontro de Direito Eleitoral e
Ciência Política, promovido pelo Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE).
Para
o promotor, além de verem reduzida a influência dos chamados "puxadores de
voto", candidatos menos conhecidos terão outro obstáculo, já imposto no
ano passado: a campanha reduzida de 90 para 45 dias. "Isso favorece
àqueles candidatos que já são conhecidos, em razão de cargos políticos mesmo,
ou da presença na imprensa, por exemplo", avalia.
Outro
fenômeno observado em 2018 foi a utilização, pela primeira vez, de verba
pública para financiamento de campanhas de maneira oficial. No valor de R$ 1,7
bilhão, o Fundo Especial de Financiamento de Campanha tinha o objetivo de
preencher o vácuo deixado pela proibição do financiamento empresarial, oriunda
da minirreforma de 2015. A Justiça Eleitoral determinou que 30% da verba fossem
destinados a candidaturas femininas, mas a política afirmativa foi burlada em
inúmeros casos de "candidaturas-laranja" que vieram a público.
Participação
feminina
Para
Roberto Diniz, diretor da Escola Judiciária Eleitoral do TRE-CE, a presença
feminina na política deve ser buscada de forma continuada. "É necessária a
sensibilização das cúpulas partidárias, no sentido de ter um programa de
inclusão e de inserção da participação das mulheres nas campanhas, e certamente
a Procuradoria Regional Eleitoral e o TRE estão atentos a essa situação para
evitar candidaturas que não reflitam, na prática, a participação da
mulher".
Outra
preocupação que ganha força, segundo Roberto Diniz, se refere à divulgação de
conteúdo falso, principalmente pela internet. "A última eleição foi
realmente atípica, principalmente no uso das redes sociais, na ocorrência de
desinformações, as chamadas fake news. Ocorreram alguns fenômenos que a Justiça
Eleitoral ainda precisa se apropriar, refletir sobre eles, para dar uma
resposta melhor no sentido de coibir abusos".
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